quarta-feira, julho 21, 2004
Na minha pré-história, quando ia pintar, não sabia “o que” nem “como”.
Então recorria a recursos obscuros para suprir a minha ignorância, e assim me sujeitando, o comando da ação era delegado para “entidades duvidosas”.
E eis que um dia me apareceu a imagem e a voz clara de um velhinho pintor, italiano, que começou a me ditar o que fazer. “Oggi faciamo uma donna!” e eu prontamente atendi o pedido mandando ver na pintura. E ele continuava ” Piú di rosso, meno jalo, piú de blu, molto ciaro, alora! piú sensuale...” e assim se desenvolviam as sessões, por mêses, para o meu contentamento e resultados patéticos.
Até que um dia botei em dúvida o processo. ”Cázzo! Quem mandada aqui? Eu ou o velhinho italiano?” E numa decisão definitiva, mandei o velhinho “a merda” e nunca mais dei ouvidos as suas tentações. Pensei “aqui quem manda sou eu, e pronto!”
E não é que uma semana depois me veio um amigo pintor, vizinho, dizendo ” fiz um belo quadro de um nú feminino, pois um velhinho pintor, italiano, baixou em mim e me ditou uma pintura inteirinha!” (hehehehehehehe)
"Ah!...", disse eu, "Mandei esse cara embora e ele foi baixar no seu terreiro. Sai dessa que esse velhinho é fumaça!"
Assim Higienópolis foi exorcizada e se livrou de tentações maneiristas.
Como dizia Sergio Camargo: "Na arte, quem não tem pai , é filho da mãe".